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Mostrando postagens de agosto, 2010

Sábios Xavantes

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É necessário cuidar da ética para não anestesiarmos a nossa consciência e começarmos a achar que tudo é normal. Das histórias que pude partilhar na vida e que, vez ou outra, relato nos diálogos, há uma exemplar que, inclusive pude já em 1997 incluir em livro meu antes mencionado (A escola e o conhecimento), embora mais resumidamente. Em 1974, dois caciques da nação Xavante vieram visitar a cidade de São Paulo. Na época, os xavantes não usavam o dinheiro como meio de qualidade de vida. Para eles, qualidade de vida era alimento, porque era o jeito de garantir sobrevivência. O avião deles, que vinha de Cuiabá, pousou em Congonhas e eles foram levados ao abrigo da Funai, que ficava na Vila Mariana. No dia seguinte, foram convidados a passear. Ficaram boquiabertos com a Avenida Paulista, 2,5 km de catedrais financeiras. Foram levados a andar de metrô, que acabava de ser inaugurado. Ficaram pasmos com a velocidade daquele transporte. Foram levados ao shopping. Havia apenas dois naque

O anjo da História

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Walter Benjamin encontrou nessa obra de Paul Klee  chamado Angelus Novus a mais adequada expressão do desespero da modernidade, face à história. O olhar alucinado e esbugalhado do anjo, impotente perante a catástrofe do progresso, colide brutalmente com o otimismo histórico que os positivistas reclamavam. No desdobramento interno dessa imagem permanece a destruição alegórica e violenta que contém em si, paradoxalmente, a possibilidade da redenção messiânica. O anjo reconhece a impossibilidade de salvar a história vista à luz do progresso, todas as coisas que se submetem ao vento e à tempestade arrebatadora do Progresso.   Eis as palavras com as quais Benjamin abre o texto: “Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos

Confissões

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"Eis que habitavas dentro de mim, e eu lá fora a procurar-Te!" "Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, Tarde Te amei. Eis que habitavas dentro de mim, e eu lá fora a procurar-Te! Lançava-me desajeitadamente sobre as coisas belas da Tua criação. Tu estavas comigo e eu não estava contigo! Retinha-me longe de ti aquilo que não existiria se não existisse em Ti. Porém chamaste-me e o teu grito rompeu a minha surdez; brilhaste e o Teu esplendor afastou a minha cegueira; exalaste o Teu perfume, eu respirei-o e suspiro por Ti. Saboreei-te e tenho fome de Ti, tenho sede de Ti; tocaste-me e ardi no desejo da Tua paz .                                                (Santo Agostinho de Hipona, Confissões).

Propaganda

A propaganda foi um instrumento muito utilizado para legitimar o poder politico no Estado novo. Por intermédio da propaganda, das imagens, que o governo transmitia seus "recados" para os cidadãos. O poeta Cassiano Ricardo(1895-1974) definiu o papel das imagens na Era Vargas: Tentei explicar(...) o gosto que o brasilereio tem pela imagem. Duas razões justificam essa preferência incurável. Primeiro porque a imgem é um processo democrático de expressão.  Segundo porque a imagem fala mais ao sentimento do que a razão, e o Brasil é uma democracia sentimental.  O sentimento democratiza os homens pela solidariedade, caminhabndo para todos os lados da planicie social(...) Só a imgem, pois, convence o povo, em nossa domocracia sentimental. Uma imagem vale por cem vezes mais do que um argumento. (Cassiano Ricardo, ctado por Alcir Lenharo em Sacralização da politica. Campinas, Papirus Unicamp,1986, p.54-55)

O essencial

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"O essencial não é aquilo que se fez do homem, mas aquilo que ele fez daquilo que fizeram dele". Sartre Pintura de Edward Munch " O Grito "

A condição humana

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*Hannah Arendt, filósofa e pensadora política, nasceu na Alemanha em 1906 e faleceu em 1975.   O seu crescente envolvimento com o sionismo levá-la-ia a colidir com o anti-semitismo do Terceiro Reich o que a conduziria, seguramente, à prisão. Conseguiu escapar da Alemanha e passou por Praga e GenebraParis, onde trabalhou pelos 6 anos seguintes com crianças judias expatriadas e conheceu e tornou-se amiga do crítico literário e filósofo marxista Walter Benjamin. Foi presa (uma segunda vez) na França conjuntamente com o marido, o operário e "marxista crítico" Heinrich Blutcher, e acabaria em 1941 por partir para os Estados Unidos, com a ajuda do jornalista americano Varian Fry. Conhecida como uma pensadora da liberdade, articula reflexões existenciais com questões políticas. Esse é seu livro A CONDIÇÃO HUMANA, mais citado e referenciado, em que ela mostra a importância do espaço público para exercício da liberdade humana. “O mundo – artifício humano – separa a exi

Pelas gerações futuras

O governo Vargas achava que os judeus não eram “adequados” para a miscigenação   Fábio Koifman Na Europa, crescia consideravelmente o número de judeus que saíam do continente em busca de refúgio em outros países. A década de 1930 foi marcada pela crise econômica mundial de 1929 e pela afirmação de alguns regimes fascistas, como o nazismo – despertando em muitos judeus o temor de perseguições. Com o início da Segunda Guerra Mundial (1939) e as expressivas vitórias militares alemãs, a situação piorou ainda mais.Enquanto isso, no Brasil, durante o primeiro governo de Getulio Vargas (1930-1945), intensificaram-se as políticas restritivas à imigração. Essas medidas de controle da entrada de estrangeiros atingiram diretamente os judeus e eram apresentadas ao público como fundamentais para reforçar os valores e ideais de nação.Já em um discurso feito em 1930, quando ainda era candidato à Presidência, Vargas afirmou: “Durante muitos anos, encaramos a imi

Olga Benário - Carta a Anita e Carlos (Prestes)

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 Olga Benário Prestes “Queridos: Amanhã vou precisar de toda a minha força e de toda a minha vontade. Por isso, não posso pensar nas coisas que me torturam o coração, que são mais caras que a minha própria vida. E por isso me despeço de vocês agora. É totalmente impossível para mim imaginar, filha querida, que não voltarei a ver-te, que nunca mais voltarei a estreitar-te em meus braços ansiosos. Quisera poder pentear-te, fazer-te as tranças - ah, não, elas foram cortadas. Mas te fica melhor o cabelo solto, um pouco desalinhado. Antes de tudo, vou fazer-te forte. Deves andar de sandálias ou descalça, correr ao ar livre comigo. Sua avó, em princípio, não estará muito de acordo com isso, mas logo nos entenderemos muito bem. Deves respeitá-la e querê-la por toda a tua vida, como o teu pai e eu fazemos. Todas as manhãs faremos ginástica... Vês? Já volto a sonhar, como tantas noites, e esqueço que esta é a minha despedida. E agora, quando penso nisto de novo, a idéia de que nun

A COLUNA PRESTES - UMA EPOPÉIA BRASILEIRA

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Anita Leocádia Prestes [*] 28 de outubro de 1924: começa o levante tenentista no estado do Rio Grande do Sul. Logo a seguir tem início a marcha rebelde que, mais tarde, entraria para a História como a Coluna Prestes (ou a Coluna Invicta) – o episódio culminante do movimento tenentista. A insatisfação no país era geral, mas foi a jovem oficialidade do Exército e da Marinha (os chamados “tenentes”) que assumiu a liderança das oposições. Por quê? O movimento operário havia crescido e revelado um alto grau de combatividade no final dos anos 10. Entretanto, devido à repressão policial desencadeada contra os trabalhadores e à ausência de um projeto político consistente de parte das lideranças anarco-sindicalistas que dirigiam suas lutas, o movimento operário encontrava-se em declínio no início da década de 20, carecendo de condições para assumir papel de liderança na luta política que começava a

O muro de segurança israelense e o desrespeito à lei internacional

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O historiador André Castanheira Gattaz  faz uma brilhante exposição sobre o muro da segurança israelense Como historiador, eu gostaria de dedicar parte de minha intervenção a um rápido histórico dos 60 anos de existência do Estado de Israel, para compreendermos melhor qual a origem do problema que impede a pacificação entre israelenses e palestinos, e possamos indicar políticas no sentido de atuarmos ativamente na busca de uma solução para o conflito. Em seguida comentarei o momento atual do conflito, e as implicações da construção do muro de segurança israelense no que diz respeito à lei humanitária internacional. O Estado de Israel teve um início conturbado, uma vez que os colonos sionistas que passaram a colonizar a Palestina a partir dos anos 1930 receberam a oposição das populações árabes locais. Com o plano de partilha proposto pela ONU em novembro de 1947, e a criação do Estado de Israel em maio de 1948, iniciou-se a chamada primeira guerra árabe-israelense, em que Israel v

Alucinações catastróficas

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Debate sobre a mudança da lei deve apontar para a gestão dos recursos florestais, de forma racional, científica e participativa, sem desvios de fanatismo ideológico Sebastião Renato Valverde Matthias Sandmann/Divulgação Produção de alimentos é um desafio que precisa ser colocado em destaque na discussão do novo Código Florestal Ninguém se assusta mais com as desgastadas e ineficientes críticas das ONGs transnacionais à reforma do Código Florestal (fatídica e deturpada Lei 71/65). No entanto, quando notórios professores e pesquisadores fazem coro aos discursos destas, urge a necessidade de alguns esclarecimentos. De fato, o maior ganho com a mudança na lei florestal não é tanto a aprovação do substitutivo, mas sim o debate sobre a gestão dos recursos florestais, que deve ser feito de forma racional, científica e participativa, diferentemente do fanatismo ideológico dos que se apoderaram da rotulação vulgar entre ruralismo e ambientalismo. Estão fazendo “tempestade em copo

O Projeto Coexistência

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Coexistence" (segundo o dicionário, coexistência significa "existência simultânea"), é "sensibilizar e conscientizar a sociedade para a importância da integração, diálogo e do respeito ao 'outro', levando uma mensagem de diálogo e entendimento universal", afirma Raphie Etgar, curador da mostra criada pelo Museum on the Seam - for Dialogue, Understanding and Coexistence Jerusalém, localizado na "linha da costura" entre a Jerusalém judaica e árabe. Confira alguns dos painéis do Projeto Coexistência Yossi Lemel, de Israel André de Castro e Sergio Liuzzi, do Brasil Armando Tejuca, dos Estados Unidos http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u63772.shtml
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O conhecimento é irresistível

Além de um sentido para o próprio ser humano na tarefa de assenhorear-se da natureza, a ciência e a técnica possuem um sentido mais profundo: elas significam a busca secreta, insconsciente e insaciável de uma Realidade Suprema que é mais do que a domesticação do mundo. BOFF, Leonardo. Experimentar Deus: a transparência de todas as coisas. Campinas: Versus, 20002.

Diálogo interreligioso

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 Recordemos 1986 Tudo começou na mesma cidade, no dia 27 de outubro de 1986, quando, pela primeira vez, representantes das religiões se reuniram para rezar pela paz, sem confusões sincretistas, mas, ao mesmo tempo, sem a contraposição e a frieza que caracterizaram muitas vezes no passado as relações entre as religiões. Naquele dia começou a soprar o “espírito de Assis”, que, sem aparecer nas crônicas da mídia ou nas reuniões dos diplomatas, penetrou os movimentos da história, produzindo frutos às vezes inexplicáveis. Da “guerra fria” e dos “ateísmos de estado” passou-se à procura da “interdependência” dos povos e das nações. Em 1988 Gorbatchov, festejando no Kremlin o milênio cristão da Rússia, convocou representantes das diferentes religiões. À queda do muro de Berlim em 1989 e do comunismo na Rússia em 1991, que pareciam inabaláveis, sem dúvida não é estranho o “espírito de Assis”. Em 1996, João Paulo II assim comentou: “Conforta-me profundamente constatar que a semente

Desafios atuais aos estudos das religiôes

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Os estudos das religiões, ou ainda, o estudo das razões do ser humano crer e elaborar religiões, sempre foi um grande desafio. Afinal, trata-se daquilo em que muitos depositam os fundamentos de uma verdade última ou, como dizia Feuerbach, a esperança da “satisfação imediata, absoluta e ilimitada de todos os nossos desejos subjetivos”. Como compreender algo que não pode ser proferido, mas apenas sentido nas mais profundas experiências do ser? Já ouvimos alhures que “religião não se discute!”. Ora, fosse assim perderíamos a oportunidade de compreender mais amplamente a nós mesmos. A capacidade de produzir símbolos e construir mundos que só existem em nossa imaginação, transcendentes da experiência sensorial e empírica, é algo que só os humanos possuem e que nos diferencia das demais espécies. Religião se discute, sim. E a ciência tem muito a dizer sobre ela. Não é de hoje que as ciências se debruçam sobre o fenômeno religioso. A filosofia e todas as outras humanidades,

Jubileu Perpétuo de Nossa Senhora da Saúde

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D. Silvério comemora neste 15 de agosto o seu Jubileu Perpétuo de Nossa Senhora da Saúde. A história de Dom Silvério começa em 1740 quando o corenel da cavalaria Matias Barbosa ergue uma capela em uma região que ficou conhecida como Circuito. Pe. Domingos de Araújo, em 1755, juntamente com cerca de 400 escravos, chega à região que passa a se chamar Fazenda do Circuito. Pouco tempo depois uma epidemia assola a Fazenda, provocando a morte de muitos escravos e colonos. Padre Domingos faz uma promessa a Nossa Senhora da Saúde, que, caso a epidemia fosse contida, ergueria uma capela em sua homenagem. Alcançada a graça, no dia 14 de agosto de 1761 ele chega do Rio de Janeiro, trazendo através de seus escravos a imagem da Virgem da Saúde.                                                        N. Senhora da Saúde A nova capela foi construída onde hoje encontra-se o Santuário e o Padre José Ferreira de Souza, responsável pela mesma, informa em um breve comunicado ao Bispo de Mariana que esta

Ser professor

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HISTÓRIA VIVA Resgate da dignidade do magistério exige adoção de políticas públicas amplas, sendo a primeira medida o aumento expressivo e atualizável dos salários de profissionais Lucilia de Almeida Neves Delgado Euler Júnior/EM/D.A Press Museu da Escola de Minas Gerais: quando o mestre era respeitado e valorizado socialmente Alguns anos atrás, em 1996, quando fui pró-reitora de graduação da UFMG, visitei uma importante escola particular de Belo Horizonte, a convite da direção daquela casa, para participar de um debate com alunos do 2º e do 3º ano do ensino médio. O tema era: escolha profissional. Minha tarefa seria dupla. Relatar minha experiência como professora, que é bastante diversifica e longitudinal – inclui magistério para curso supletivo, cursinho pré-vestibular, ensino fundamental (5ª e 6ª séries), ensino médio, universidade privada e universidade pública (cursos de graduação e pós- graduação), e fornecer informações sobre as potencialidades de diferentes carreiras

Pelas gerações futuras

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  O governo Vargas achava que os judeus não eram “adequados” para a miscigenação Na Europa, crescia consideravelmente o número de judeus que saíam do continente em busca de refúgio em outros países. A década de 1930 foi marcada pela crise econômica mundial de 1929 e pela afirmação de alguns regimes fascistas, como o nazismo – despertando em muitos judeus o temor de perseguições. Com o início da Segunda Guerra Mundial (1939) e as expressivas vitórias militares alemãs, a situação piorou ainda mais. Enquanto isso, no Brasil, durante o primeiro governo de Getulio Vargas (1930-1945), intensificaram-se as políticas restritivas à imigração. Essas medidas de controle da entrada de estrangeiros atingiram diretamente os judeus e eram apresentadas ao público como fundamentais para reforçar os valores e ideais de nação. Já em um discurso feito em 1